O MECANISMO
- Entenda como funciona a corrupção no Brasil
José
Padilha: “Quadrilhas operam política no Brasil”
Brasil
12.02.17 16:44
Em artigo no
Globo, o cineasta José Padilha, que prepara um filme sobre a Lava Jato, elenca
27 pontos do "mecanismo" que opera na base da política brasileira.
Segundo
Padilha:
1) Na base
do sistema político brasileiro opera um mecanismo de exploração da sociedade
por quadrilhas formadas por fornecedores do estado e grandes partidos
políticos. (Em meu ultimo artigo, intitulado Desobediência Civil, descrevi como
este mecanismo exploratório opera. A diante me refiro a ele apenas como “o
mecanismo”.)
2) O
mecanismo opera em todas as esferas do setor público: no legislativo, no
executivo, no governo federal, nos estados e nos municípios.
3) No
executivo ele opera via o superfaturamento de obras e de serviços prestados ao
estado e as empresas estatais.
4) No
legislativo ele opera via a formulação de legislações que dão vantagens
indevidas a grupos empresariais dispostos a pagar por elas.
José
Padilha: corrupção elegeu todos os presidentes
Brasil
12.02.17 16:48
A
articulação dessas quadrilhas de grandes partidos e fornecedores do Estado é
chamada, por Padilha, de “mecanismo”. O cineasta é claro em relação à sua
capacidade de controlar o poder.
Como
escreveu em O Globo:
"5) O
mecanismo existe a revelia da ideologia.
6) O
mecanismo viabilizou a eleição de todos os governos brasileiros desde a
retomada das eleições diretas, sejam eles de esquerda ou de direita.
7) Foi o
mecanismo quem elegeu o PMDB, o DEM, o PSDB e o PT. Foi o mecanismo quem elegeu
José Sarney, Fernando Collor de Mello, Itamar Franco, Fernando Henrique
Cardoso, Luiz Inácio Lula da Silva, Dilma Rousseff e Michel Temer.
8) No
sistema político brasileiro a ideologia está limitada pelo mecanismo: ela pode
balizar politicas públicas, mas somente quando estas políticas não interferem
com o funcionamento do mecanismo.
9) O
mecanismo opera uma seleção: políticos que não aderem a ele tem poucos recursos
para fazer campanhas eleitorais e raramente são eleitos."
José
Padilha: mecanismo afasta inteligentes e honestos
Brasil
12.02.17 16:54
Para dar
certo, o mecanismo da corrupção brasileira impõe limites rígidos no perfil de
quem pode entrar na política.
No artigo,
Padilha afirma:
"10) A
seleção operada pelo mecanismo é ética e moral: políticos que têm valores
incompatíveis com a corrupção tendem a serem eliminados do sistema politico
brasileiro pelo mecanismo.
11) O
mecanismo impõe uma barreira para a entrada de pessoas inteligentes e honestas
na política nacional, posto que as pessoas inteligentes entendem como ele
funciona e as pessoas honestas não o aceitam.
12) A
maioria dos políticos brasileiros tem baixos padrões morais e éticos. (Não se
sabe se isto decorre do mecanismo, ou se o mecanismo decorre disto. Sabe-se,
todavia, que na vigência do mecanismo este sempre será o caso.)"
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José
Padilha: mecanismo depende de Estado gastão
Brasil
12.02.17 17:07
Para o
cineasta, eficiência e transparência são incompatíveis com o esquema montado
pelas quadrilhas que dominam a máquina pública. Leia:
"13) A
administração pública brasileira se constitui a partir de acordos relativos a
repartição dos recursos desviados pelo mecanismo.
14) Um
político que chega ao poder pode fazer mudanças administrativas no país, mas
somente quando estas mudanças não colocam em cheque o funcionamento do
mecanismo.
15) Um
político honesto que porventura chegue ao poder e tente fazer mudanças
administrativas e legais que vão contra o mecanismo terá contra ele a maioria
dos membros da sua classe.
16) A
eficiência e a transparência estão em contradição com o mecanismo.
17) Resulta
daí que na vigência do mecanismo o estado brasileiro jamais poderá ser
eficiente no controle dos gastos públicos."
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José
Padilha: corrupção dita ciclos econômicos
Brasil
12.02.17 17:11
O tão
conhecido voo de galinha da economia brasileira é uma consequência direta do
mecanismo de corrupção que domina o Estado. Como afirma Padilha:
“18) As
políticas econômicas e as práticas administrativas que levam ao crescimento
econômico sustentável são, portanto, incompatíveis com o mecanismo, que tende a
gerar um estado cronicamente deficitário.
19) Embora o
mecanismo não possa conviver com um estado eficiente, ele também não pode
deixar o estado falir. Se o estado falir o mecanismo morre.
20) A
combinação destes dois fatores faz com que a economia brasileira tenha períodos
de crescimento baixos, seguidos de crise fiscal, seguidos ajustes que visam
conter os gastos públicos, seguidos de novos períodos de crescimento baixo,
seguidos de nova crise fiscal...”
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José
Padilha: Lava Jato é mais importante que economia no curto prazo
Brasil
12.02.17 17:16
O cineasta
José Padilha diz que a Lava Jato é fruto de uma conjunção improvável e defende
que é mais importante acabar com a corrupçãodo que assegurar a estabilidade
econômica no curto prazo...
“22) A
operação Lava-Jato só foi possível por causa de uma conjunção improvável de
fatores: um governo extremamente incompetente e fragilizado diante da derrocada
econômica que causou, uma bobeada do parlamento que não percebeu que a
legislação que operacionalizou a delação premiada era incompatível com o
mecanismo, e o fato de que uma investigação potencialmente explosiva caiu nas
mãos de uma equipe de investigadores, procuradores e de juízes rígida,
competente e com bastante sorte.
23) Não é
certo que a Lava-Jato vai promover o desmonte do mecanismo. As forças politicas
e jurídicas contrárias são significativas.
24) O Brasil
atual esta sendo administrado por um grupo de políticos especializados em
operar o mecanismo, e que quer mantê-lo funcionando.
25) O
desmonte definitivo do mecanismo é mais importante para o Brasil do que a
estabilidade econômica de curto prazo.
26) Sem
forte mobilização popular é improvável que a Lava-Jato promova o desmonte do
mecanismo.
27) Se o
desmonte do mecanismo não decorrer da Lava-Jato, os políticos vão alterar a
lei, e o Brasil terá que conviver com o mecanismo por um longo tempo."
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